quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

O ônibus das sete


São 7h30, vejo da janela do ônibus, carros, motos, bicicletas e pedestres em um ritmo frenético. Assim é o centro de Imperatriz.  Em meio ao vai e vem do trânsito, é possível notar pessoas que dormem em calçadas de prédios abandonados. As senhoras seguram suas bolsas como se estivessem guardando a própria vida.
Mais alguns quilômetros e é possível perceber, do ônibus, pessoas sentadas em frente às suas casas, em conversas despreocupadas. Logo a periferia é identificada. Ruas sem asfalto, o esgoto corre livremente, crianças no meio da rua, junto com galinhas que são criadas soltas.
Pela janela, é possível ver duas realidades distintas, a do bairro e a do centro. Os indivíduos, ‘adormecidos’ com a correria, mergulhados em seus universos, preocupados com o jogo de futebol, com a conta na farmácia, a prova do dia seguinte ou com os livros das crianças, parecem não compartilhar dos problemas coletivos, que já fazem parte da rotina. Como diria Renato Russo “estão longe, em outra estação”.
Em uma volta de ônibus, uma das principais características de Imperatriz é identificada, uma cidade que transita entre o urbano e o rural. No trajeto, diferentes pessoas. Rostos com expressões marcadas pelo sofrimento, os idosos se amontoam no ônibus lotado, alguns tem a sorte de encontrar alguém que lhe ceda a cadeira, outros, aventuram-se a ir em pé, tentando equilibrar-se no sacolejo do coletivo. As adolescentes a caminho da escola conversam sobre suas paixões, a final não podia ser diferente, essa é a idade dos amores intensos. Algumas cantarolam, todos parecem tão perdidos em seus próprios pensamentos. 
Outros aproveitam o veículo parado e compram aperitivos e em meio ao ‘passeio’ deixam trilhas de lixo jogado pela janela. Há os que parecem está em outra dimensão concentrados na leitura de livros, mesmo em meio ao barulho. Os tagarelas não resistem e logo encontram algo em comum para conversar com a pessoa ao lado, ali uma nova relação é estabelecida, ainda que seja por alguns momentos. Mas afinal, o que importa se a amizade vai durar alguns minutos ou estender-se a vida inteira? Vivemos em épocas onde tudo é tão ‘transitório’, tão efêmero, assim como um percurso de ônibus.

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