Joaquim Barbosa mantém viva a cultura herdada dos
índios |
Garrafada para úlcera, derrame,
câncer. A indicação é ampla e baseada no conhecimento prático e
tradicional. O hábito de tratar doenças com ervas medicinais surgiu com
os índios e até hoje continua sendo um traço significativo da cultura
brasileira. Joaquim Barbosa da Silva, o Joaquim Croado, é conhecido por
fabricar composições com ervas medicinais, animais, vinho ou cachaça – as
famosas garrafadas.
De acordo com ele, o público que o
procura em busca do “remédio natural” na Avenida Norte Sul, em João Lisboa, é
diversificado. Suas composições já foram parar no Rio Grande do Sul. “Uma
vez, estava no Rio Grande do Sul. Chegou um rapaz amarelinho, puxando o fôlego.
Eu disse: ‘Rapaz, isso é asma?! Eu tenho um litro ali que você toma e fica
bonzinho. Ele disse: ‘Pois vá buscar’. Respondi que não poderia ir porque
estava trabalhado, se saísse perdia o emprego. Pensei que ele era um quase
nada. Ele disse: ‘Por causa disso, não!’. Chamou o encarregado e disse que
estava precisando de mim. O encarregado disse: ‘Esse aí é o nosso patrão’. Eu
nem sabia”, contou.
“Croado” buscou a garrafada e voltou
ao trabalho e minutos depois foi chamado pelo patrão. “Sim, senhor. Diga aí,
doutor”, respondeu Joaquim. “Doutor, não. Doutor aqui é você. Eu já estou é
bonzinho. Já desentupiu tudo. Deixe seu serviço de mão, você agora vai andar é
mais eu”, relata.
Com muito bom humor, ele conta histórias de pessoas que foram “curadas” com a garrafada. “Teve um que chegou aqui com a cara virada para as costas. Teve derrame”. Enquanto conversávamos, chega Antônio Andrade. “Olha aí, o homem que eu tava falando”, aponta Joaquim. Perguntei a Andrade se havia tido derrame e como tinha se tratado. “Foi com a garrafada que eu me levantei. Tomei dois ou três litros. Agora, tomo para prevenir”, confirmou.
O preço da bebida é diversificado, depende da composição. A mais barata custa R$ 70 e a mais cara, R$ 150. “Mas, quando eu vejo que a pessoa está muito doente e não tem condição, eu faço de graça. Não é pecado ajudar a quem precisa”.
A fabricação da garrafada começou quando uma senhora indicou para ele o tratamento de úlcera com cobra cascavel. “Sofria de úlcera nervosa há 21 anos. Uma mulher disse que tinha um remédio bom. Era cobra cascavel. Ela me deu uma tora e eu levei para casa e torrei, pisei e botei em um litro de 51. Tomei à boca da noite e tomei outro de manhã. Sei que no outro dia não senti mais nada e eu resolvi fazer”.
Na Amazônia, ele aprendeu a função das ervas no tratamento de doenças. “Mangabeira e Açoita Cavalo é bom para inflamação. Pau de Leite é bom para coluna”, explica. Em vidro pequeno, ele mostra a banha de cobra cascavel. “Isso aqui é bom para tudo do mundo”. Os ingredientes são comprados na Feira do Mercadinho.
Manaus, São Paulo, Paraná e Mato Grosso. Com orgulho, ele conta que vende a garrafada para pessoas de todos os lugares. E alerta entre risos: “Se você tomar um golinho, quando chegar em casa atenta seu marido”. Segundo Barbosa, as bebidas são afrodisíacas. “Elas [as garrafadas] são danadas”, brinca.
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