sexta-feira, 24 de maio de 2013

Tributo ao Tropicalismo fugiu da proposta musical




A estreia do Seis Meia – reformulação do antigo Sexta Seis e Meia – aconteceu na noite de quinta-feira (23), na Praça da União e contou com uma boa participação do público. Era para ser a noite de relembrar os grandes sucessos do tropicalismo. Mas, confesso que fiquei surpresa quando, na abertura do evento, tocaram Lobão e logo depois Zeca Baleiro.
Pensei: “Esqueceram de avisar as bandas que é um tributo a Tropicália, meu Deus!”. Várias outras composições distantes do movimento foram interpretadas, inclusive músicas do O Rappa.
Permitam-me abrir um parêntese para expor a corrente artística. O Tropicalismo foi um movimento artístico que trouxe para a música brasileira inovações estéticas radicais. Surgiu no final dos anos 60, durante a ditadura militar. Na época o conceito de “boa música”, geralmente estava ligado aos pensamentos de esquerda.
Embora não abandonasse os problemas sociais e políticos, a Tropicália proporcionou uma maior abertura para as temáticas musicais e fez uma mistura de correntes artísticas de vanguarda, cultura pop, nacional e estrangeira.
Relativizou a definição da música de qualidade e por isso foi vista, muitas vezes, como uma corrente vaga e sem comprometimento com as causas sociais. Artistas, como Gilberto Gil, definiu a Tropicália como “uma espécie de utopia”. Tom Zé disse que a música Baby,de Caetano Veloso, era uma “tremenda malandragem”. A composição era uma crítica disfarçada aos padrões sociais impostos na época.
Voltando ao tributo, Anderson Lima foi o salvador do repertório do evento. Em sua apresentação, o cantor interpretou vários ícones do tropicalismo, como Caetano Veloso. Não lembro se houve outra apresentação musical que tenha feito tanto jus ao movimento. As outras foram bem mescladas.
Fora isso, videoclipes da tropicália eram apresentados nos longos intervalos entre as apresentações. A menção as “personalidades” presentes ganharam quase o mesmo espaço que os artistas. Mas se o que vale é a intenção... ‘tá’ valendo.
Críticas a parte, a reformulação do projeto foi muito boa. A mesclagem de várias manifestações artísticas foi interessantes. Durante o show, o grafiteiro Rubão fazia um quadro com o tema da Tropicália. A barraca de artesanato era outra atração.
Levar música alternativa para as praças, inclusive dos bairros, é de outra ideia plausível. É uma forma de democratizar a arte. Merece aplausos. A participação do público no evento mostra que ele tem tudo para dar certo. Que venham os próximos, mas que venham com o repertório musical mais afinado com o tema.

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